FLORES PARA DOUTOR EUGÊNIO

Friday, June 02, 2006

“Eu vou mandar rosas!”

Ele estava em frente à floricultura decidindo o seu futuro e revendo o recente passado. A marca no pescoço e os arranhões pelo corpo ainda pulsavam cheios de imediatismo.
Ela foi uma dessas surpresas da vida, um vento que levanta a saia da menina e expõe suas partes baixas. É, era assim que ele se sentia: com as partes baixas ao vento. Aquela mulher alta apareceu sem fazer barulho que a denunciasse, trazendo em mãos um maço de cigarros e pelo corpo magro um aroma de maçã. Ele odiava o beijo das fumantes; o dela tinha gosto de maçã.

“Não, vou mandar lírios!”

Ele também a surpreendeu. Isso, ele percebeu durante o primeiro beijo. Uma postura despreocupada deu lugar a uma vontade de crescer e, porque não, voar nos braços daquele menino cabeludo. Ele estava adorando fazê-la voar, como a uma pipa ganhando as nuvens.

“Cravos! Não, cravos são para homens...”

Uma caminhada pela calçada úmida e vazia, abraços que pediam para se repetir, o beijo longo de maçã e uma cama que assistia passivamente o reencontro de dois vazios. É karma, ela disse. Coisa de outra encarnação. O sono se tornou secundário e a noite um estado de espírito.

“Existe uma flor chamada bétula?“

Ele foi embora, simplesmente. Ela disse: “Na próxima vez...”.
Ele: “Vai ter uma próxima vez?”
Ela: “Depende...”
Ele: “Do que?”
Ela só ri.
Sem telefones. Não era a hora.
Ele foi embora, com a impressão de ter esquecido alguma coisa na casa da moça. No dia seguinte percebeu que se esqueceu de levá-la embora com ele.
Ele guarda o endereço da cama: Rua Doutor Eugênio 43. Rua Doutor Eugênio 43. Assim que sentir vontade, volta a procurá-la. A moça e a cama.

“Rosas! Eu vou mandar rosas!”

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