CAÇADOR DE BORBOLETAS

Sunday, September 16, 2007

Foi assim que a encontrei pousada: olhando para o lado oposto ao meu. Desarmada, descuidada e desapercebida de minha presença. Deslumbrante.
A moça estava sentada, esperando não se sabe o que. Ao seu lado, milagroso, um lugar vago me chamava pelo nome. E, em seus gritos ansiosos, aquele espaço vazio celebrava todo o meu futuro de senhor enamorado, que beija as rugas de sua senhorinha com orgulho (“são as memórias de todas as vezes que a fiz sorrir”) e conta aos netos sobre o incrível dia em que, tomado de coragem expedicionária, sentou-se ao lado da bela moça distraída e sussurrou-lhe um versinho decorado.
Mas no meu tempo presente, ali, observando a moça que observava o lado oposto ao meu, não havia coragem expedicionária, mas uma covardia contemplativa que me congelava os ímpetos. Qual um caçador de borboletas, temia que minha barulhenta cobiça resultasse em bater de asas e frustração. Calei minhas canções de amor e concentrei-me na fictícia tarefa de congelar aquela imagem que à minha frente descansava.
Só quem não calou foi o espaço vazio ao lado da moça. Sentindo minha hesitação, gritava qualquer coisa que eu não conseguia entender. Babava de ansiedade e a afobação atrapalhava sua dicção. Em meio àquele emaranhado de letras que, apesar do alto volume, não causavam brisa que fizesse minha futura senhorinha piscar, consegui ouvir uma frase completa:
“Agora foi há um verso atrás”*

Bastou para que eu me movesse.

Calou satisfeito e exausto, o vazio. Observava triunfante a poesia que conceberia meu futuro de rugas beijadas e carícias em cabelos encanecidos. Poesia esta que eu escrevia a passos largos e decididos, dirigidos a um banco de praça ocupado pela metade. Pela minha deslumbrante metade. Despertei a minha moça de sua ausência descuidada e, presto no falar, mas vagaroso no olhar, declamei-lhe a profecia:

“Vim trazer-lhe meu amor cativo, nossa linhagem e suas marcas de expressão.”
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*essa frase não é minha. Parece ser de uma música de uma banda chamada Insônica (http://www.insonica.com.br/). Valeu pelo empréstimo!

EXPECTADOR

Thursday, September 06, 2007

- Que fazes aí parado? – ela dá uma risada, divertida. Por que me olhas?

Espero-te pacientemente. Sempre foi assim; porque me perguntas?, eu respondo, enquanto me ajeito na cadeira.

Sua cara de interrogação me inquieta. Desejando antes emudecer, pergunto: O que te incomoda, meu amor?

Ela me encara. Ela sorri.

Nada. Só não entendo porque aqui me esperas se aqui nunca estive nem estarei.


E me deixa, parte piruetando em sua sedutora insolência.

 
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