DE AMOR

Tuesday, December 01, 2009

Daqueles sorrisos que destes
Tem um que grudou na visão
E agora não importa a paisagem
Tem lábios na composição.

Se escrevo um bilhete de amor
Tua boca já está no papel
Ditando os versos que queres
Pedindo uma rima com céu.

Não adianta que eu feche os meus olhos ou que me apaguem a luz
Quando eu penso em tua boca, menina, acende tudo o que é breu
Não consigo chorar de saudades quando você não está
Pros teus lábios escorre o meu choro e o meu pesar vira teu.

Um rosto que a mim se apresente
Já tem seu sorriso emprestado
Qualquer outro amor que eu tenha
Tem beijo do seu, decorado.

Eu já tive você inteirinha presente no meu olhar
Hoje eu só tenho um sorriso na vista e a falta no coração
Ai, se Deus me tivesse piedade me dava o teu restante
Pra grudar tua cabeça no meu colo e o teu seio na minha mão.

O RABISCO E A ESPERA

Wednesday, November 04, 2009

Decorei com muito esmero a minha clausura
Me vesti com os meus trajes de ficar
Estiquei meus panos sobre a cama dura
Me joguei, enfim, no eterno dormitar.

Não me serve de mais nada estar desperto
São meus dias de uma espera recorrente
Estou só, mas se me olhassem bem de perto
Me encontravam nem tão triste, nem contente.

Eu aguardo é pelo coração perdido
Dele eu nunca soube, tão de mim caído
Nem boatos... nunca fatos. Só calar.

E enquanto dele não me vem notícias
Formo um dito de umas letras fictícias:
"Nada é feito sem o peito no lugar".

COLCHÃO D`ÁGUA

Saturday, September 12, 2009

Toda noite chora triste a Terezinha. Toda noite, antes de dormir. Noite sim, também a que vem, Teresinha deita o rosto no travesseiro e deságua o peito fora pelos olhos. É rotina, como o banho pelas manhãs e a escova pelos dentes. É preciso que ela chore, pra limpar os olhos das coisas que vê ao longo do dia. Como louça suja, como as mãos da rua, ela chora e lava a vista. Não que seja mais fácil por ser rotineiro. Dói. Toda vez igual, dói que a cansa e o sono vem.
Essa noite chora triste a Teresinha. Toda noite, antes de dormir. Logo, logo ela se cansa e a dor apaga os olhos. Se a minha vontade importasse, não viria o sono com a dor. Se a minha vontade importasse, cada gota de seu choro pingaria a poesia de ninar que fiz pra ela. Viria dali o repouso.

Calma, que o Sereno
Sempre lava
As manhãs.

Seja no dia
Seja no peito
Sempre lava
As manhãs.




Sei como é, Terezinha. Sei da falta que faz a serenidade. Dorme, que amanhã tem menos.

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Monday, August 31, 2009

Só sei explicar se for assim:
A vida às vezes me parece aquelas flores de “bem-me-quer, mal-me-quer”
Porque mesmo que eu ganhe,
Tudo o que eu tenho no final é uma ex-flor
Com uma mísera e solitária pétala.

UNI DUNI

Wednesday, July 22, 2009


Foi-se o tempo em que eu vivia
Vista larga de alegria
A notar tudo o que é.

Enxergava atrás do escuro
Via - pasmem! - o futuro
Me engasgava tanta fé

Dava passos sempre retos
Me levavam os pés diletos
Me guiava a vista clara.

Meu destino estava perto
(De mentira) estava certo
Chegaria a vida rara!

Mas andar demais fadiga
Esperar dói a barriga
E chorar cerra o olhar

Estanquei num certo canto
Que chamei "Canto do Pranto"
Que é pra sempre magoar

Lá deixei parado o passo
Meu olhar tornou-se crasso
Nunca mais andei ou vi.

Hoje me pesa a preguiça
A vontade sempre enguiça
Pra onde eu ia, me esqueci.

Tanto tempo sem notar-me
Tanto, tanto sem mirar-me
Que a memória andou de ré.

Se eu me volto para o chão
Minha cansada visão
Não me diz qual é o meu pé.

PERDI

Thursday, July 09, 2009

Acontece que a poesia não rasteja
Sobrevoa
Observa, longealada
Meu nariz riscar o chão.

VALSINHA NO LUGAR

Wednesday, June 17, 2009

Eu não sei
Se é a dor que não se faz passar
Ou se é o medo que me faz pensar
Melhor eu sigo se eu ficar aqui.

Não
Já digo não
Não traga as minhas frases preferidas
Não cante a solidão
Não rabisque meus ouvidos

Eu sei que a chuva cai
Eu sei que a nuvem vem ficar de vez
Pra onde eu corro, cai
E a fuga, nessa água, se desfez

Eu pensei
Que eu teria um lugar pra ficar
Mas não sabia que esse tal lugar
Se afogaria pra fugir de mim.

Estar sozinho dói
Sobrou-me a Ilha de Semaisninguém
Mesmo curando, dói
Pois abandono é o que mais se tem

Sim
Sei que é assim
Sempre disseram pra querer bem pouco
Mas eu não via fim
Pro meu querer atrevido

Hoje eu sei
Que o que me perde é o meu caminhar
Não há mais nada pra se procurar
Melhor eu sigo se eu ficar aqui.

TODO O PROBLEMA MORA NA MINHA GOTEJANTE PERDA DO ROMANTISMO

Thursday, May 14, 2009

Porque é do mais notório e público saber
que, por mais que outros venham dizer
num excesso de boa fé e de inocência,
não existe (e, perdoe essa certeza
que machuca quando bate mas
ajuda quando se instala e fica)
e, não existindo, traz consigo
uma perda irreparável para
tudo o que for do coração,
não existe a menor nem
a mais remota chance
de um dia se acabar
um romance e por
fim o sujeito que
antes morria de
paixão e arfava
sem razão por
cantos e por
recantos e
disparos
decidir
enfim
se re
apai
xon
ar
.

AO AMOR, TUDO O QUE LHE CABE

Monday, April 13, 2009

É que eu sinto raiva passageira
Uma espuma que me enche o peito
Feito a saliva dos meus sonhos ruins
Que se beijam aos despudores
Como amantes, lambuzando o leito.
É um roer no ventre e no abraço
Um cansaço, o impulso de chamar-lhe nomes
Disfarçados em meus versos de querer tão bem.
É uma lama que dilata aos poucos
E me ocupa a mente, inunda ouvidos
Pra depois, na boca, ser areia.

É claro que a amo, mas não é só:
É a saudade de sentir-lhe inteira
Com a vontade de partí-la em cacos.

AQUÁRIO

Tuesday, March 17, 2009

Quase nunca eu choro
Sempre seco
Seco fora
Água dentro
Gasta do represamento
Feito alma parada
Bóia o meu sentimento
Sinto muito, nada sinto.
Vez em quando em quando
Jogam pedra
Pedra jogam
Água adentro
Causa um leve agitamento
Leve, pouco
Pouco leva
Nada mexe
Nem se agita a alma parva
Pouco lava
Fora a pedra
E o resto
que é mais nada.

ESTRANGEIRO

Monday, February 23, 2009

Vem pra cá
Distante não faz calor
Tão longe estás, amor
Tão longe de se tocar
Traz pra mim
Um pouco de aflição
Arpejo e uma canção
Que eu só sei amar assim
Vou chorar
Prometo me entristecer
Pra ninguém mais me querer
Até ver você chegar
Se no fim
Barulho pra me acordar
Teu choro pra misturar
Na água que sai de mim
Deixe estar
Nunca sei o que dizer
Se você aparecer
Me ocupo em te amar.

MEU CAMPO DE GIRASSÓIS

Saturday, January 17, 2009

Até o dia em que saiu nu e não encontrou ninguém na rua. Ninguém. Decepcionado com a falta do reboliço que pretendia causar, caminhou pela vizinhança em busca de testemunhas. Caminhou quilômetros sem encontrar ninguém pelo caminho. O sol não agredia sua pele, mas chegou a pensar que teria escolhido um bom calçado se soubesse que enfrentaria tamanha caminhada. “Não, que eu esteja nu até a planta do pé”, e não mais considerou a idéia.
Chegou à outra ponta da cidade e lá, como cá, não havia ninguém. Gritou, chamando nomes aleatórios na esperança de que alguém confundisse o chamado com algo importante e desse as caras na rua. Mas, das casas ao redor, ele só recebia de volta o silêncio inerte das portas fechadas. Aquela indiferença mais o intrigava que o incomodava e, por produto inesperado daquele silêncio, surgiu uma sensação intensa de que estava sendo desafiado. “Não é possível que não me vejam aqui nu em pêlo”, pensou sorridente, “estão a me pregar uma peça.” E, como se estivesse numa brincadeira de esconde-esconde, começou a revirar cada canto da cidade. Invadiu casas, olhou embaixo das camas e dentro dos armários, abriu gavetas e revirou malas, explorou latrinas e fornos. Entrou em cada casa existente na cidade e não encontrou um par de olhos que se dignasse a presenciar sua nudez.
Irritou-se. Que brincadeira era aquela? Quem haveria de ter lhe adiantado os passos do insulto nu e avisado a tudo e a todos que escondessem suas vistas? Terminava de confeccionar sua lista de suspeitos quando se deparou com a única casa da cidade que ainda não tinha revistado.
A porta desta, como das outras, estava entreaberta, como se os seus ocupantes tivessem batido em inesperada e não planejada retirada. Repetiu a revista que tomou quase todo o seu dia e, uma vez mais, deu-se com uma casa desabitada. Nem as fotos estavam dentro de seus porta-retratos. Até os espelhos haviam fugido das paredes. A solidão que habitava era tamanha que, quando viu que amanhecia e resolveu voltar para casa, teve que olhar para baixo para ver o próprio corpo nu e recordar como era a forma humana que esteve buscando desde o dia anterior.
Chegou em casa e vestiu seu melhor traje: um terno herdado do pai falecido havia 3 semanas. Juntou o que pode em duas malas e partiu, decidido a deixar pra trás a cidade deserta que o deixara sozinho. Feliz por não ter que se despedir de ninguém, abriu a porta de casa. Sua viagem, no entanto, durou apenas três passos além da porta de casa. Ao abrir a porta que revelava a rua, deixou as duas malas que carregava caírem num soco surdo no chão da varanda, sem saber se ria de nervoso ou se gritava de alegria. Na calçada, enfileirados, todos os habitantes da cidade estavam nus, deitados no chão, com suas barrigas voltadas para o sol que se colocava alto no céu, como que para observar satisfeito seu campo de girassóis libidinosos.
O homem deu os três únicos passos que haveria de dar para fora de casa e, derrotado, fraco e envergonhado, afrouxou a gravata e abriu o primeiro botão da camisa, preparando-se para ficar admirando aquela paisagem eternamente.

 
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