NÃO FLORZINHA, NÃO...

Wednesday, May 31, 2006

Voa não, minha Florzinha, voa não...
Fica longe de tudo o que é céu.
Abraça a raiz que te faz rasteira
E não vá se perder por qualquer besteira
Como um amor que te engana e te deixa ao léu.

Sonha não, minha Florzinha, sonha não...
Fica longe de tudo o que é bom.
Finge paz no teu leito de dor
Finge arte onde não há um pingo de cor
Canta ao lado de quem não sabe emitir um som.

Ama não, minha Florzinha, ama não...
Fica longe de tudo o que é meu.
Afinal, de que serve o meu olhar sofrido
Meus sussurros, o meu canto sentido
Se não pra lembrar-te de tudo o que não aconteceu.

A TRISTE VIDA DENTRO DE UM MONÓLOGO

Tuesday, May 23, 2006

Sai correndo, o solitário,
Sem horário pra voltar
Procurado, sai fugido
Decidido a se encontrar
Segue o rumo que a saudade
De verdade identifica
Pisa leve, com a candura
Da ternura que não fica
No caminho, a memória
Monta a história que quiser
Sete filhos, companheira
A vida inteira sua mulher
Nessa fábula tudo é sim
E sem fim é a alegria
Solidão é raridade
Felicidade é noite e dia
Terminado o itinerário
O solitário está só
Concluída a sua andança
Vê a esperança virar pó
Chega ao fim da viagem
Com milhagem de carteiro
Não encontra coração
E a ilusão de ser inteiro
Com a noite já bem alta
Tendo como ribalta o luar
Nesse palco tão vazio

Tanto frio o faz chorar.

CONSUMADO

Saturday, May 20, 2006

Que faço se o dia vira noite
E todo dia à noite
A noite apaga e vem o dia?
Para o inevitável, passividade

Para o fato, respeito
Diante do bloco da certeza, só nos resta abrir passagem.

ORBITANDO

Friday, May 19, 2006

Que bom de abraçar é o gordinho!
Tanta vida e ar ofegante
Tão redondo e aconchegante
Que me sinto abraçando um mundinho.

ARZINHO

Wednesday, May 17, 2006

Sua cara quando gargalhava tinha um arzinho de dor. A sobrancelha em circunflexo e as lágrimas escorrendo; era a felicidade que crescia tanto que chegava a machucar a alma. Mas sua dorzinha me dava a satisfação da missão cumprida.
Hoje em dia, minha cara quando dou risada tem um arzinho de dor. Mas é dor mesmo o que trago enquanto finjo bem-estar; sinto falta da sua dorzinha.
Deixo solto um arzinho para controlar o vendaval.

ACABA O CARNAVAL

Tuesday, May 16, 2006

Vou embora e levo junto o teu abraço
Pra que eu não sinta frio nem vontade de voltar.
Me arranco da tua pele sem deixar remendo
Parto com o baile e deixo o dia amanhecendo
Pra que na memória, a noite seja o teu lugar.
Quero que sintas o amargo da distância
Como um corte no céu da boca que não deixa de sangrar.
Vou marchando sem saber pra onde ir
Para que sem destino, minha viagem não possa acabar
Levo o meu pandeiro e teu descaso
Deixo a saudade sambando em meu lugar
Que ela agüente agora a tua ausência
E tudo o mais que eu não pude suportar.
E ao novo casal eu desejo vida alegre
Com luz, confete e serpentina
Mas saiba que tua nova dama não lhe é fiel
Pois a saudade também é minha triste columbina.

PRESO

Monday, May 15, 2006

O ar em volta é pesado, viscoso
Nos deixa curvados
É o medo em seu estado esplendoroso.

Somos todos

entocados

estocados

Uma futura falta, um minuto de silêncio em potencial.

Não sei se vivo pesadelo
Ou a desperta realidade

De um sonho que acabou.

POIZÉ

Thursday, May 11, 2006

PoiZé é um matuto acanhado
Bem apanhado, porém mal cuidado
É moço de vocabulário breve.
Pra qualquer pergunta que lhe façam
Responde, o olhar baixo e a voz leve:
“Pois é...”.
Quem insiste em arrancar de PoiZé
Algo mais que um suspiro e um “pois é”
Vai cansar se esperar em pé.
“Pô Zé, fala mais seu mané!”.
Já pensaram que fosse moco
Ou talvez um piá louco
Fizeram pouco desse seu jeito
E pra Cristo o rapaz foi eleito.
Mas o matuto sabe muito da vida
Quem o ama precisa entender
Que protegido por sua fala contida

PoiZé põe pouco a perder.

SONO DE ISABEL

Tuesday, May 09, 2006

Dorme bem, Isabel
Cala a vida com teu sono infantil
Tece o fio que costura alegria
Que de dia te acorda assustada
E à noite te entrega o céu.

Deita e sonha, Isabel
Que a cama te abraça quentinha
E quietinha em teu sono profundo
Guarde o mundo de um moço desperto
Triste, incerto e preso em carrossel.

O dia é triste, Isabel
Traz o Sol que ilumina o espaço
Onde passo e encontro o vazio
Que o frio ocupa na tua ausência
Trazendo saudade, a dor do infiel.

MORAES OU MONET?

Saturday, May 06, 2006

Ah! Como eu queria ser pintor
Mas eu não sei nem combinar cor
Sou rapaz sem destreza
Para questões de estética
Uso calça amarela e frenética
Com um blusão azul tristeza.

Falta cor na minha vida
Essa tela, gasta e puída
Sem textura, relevo ou conceito.

Ah! Como eu queria ser pintor
Mas eu nasci pra ser um trovador
Uso um lápis, e não pincel
Para pintar com o alfabeto
A forma e a cor do meu afeto,
Sem tela, uso qualquer papel.

Mas a idéia colorida
Que se guarda condoída
Não consegue sair do meu peito.

Ah! Como eu queria ser pintor
Mas eu só sei falar de amor
Discurso horas sem cansar
Sobre a paixão e seus tormentos
Mas não sei, para o sentimento,
Qual cor devo reservar.

Fico assim preto no branco
E o sangue incolor estanco
Com bandagem e poesia.

FAZENDO CONCESSÕES

Tuesday, May 02, 2006

Que ela me olhe com olhos de gripe
Que me guarde segredos e confie mentiras
E voe distante quando começo a falar
Posso até aceitar.

Que ela chegue em casa quando eu já dormi
E que saia pra rua antes do dia raiar
Me deixando sozinho, saudoso e invisível
Até acho possível.

Se ela dança binário e eu três por quatro
Usa calça mais justa que o Senhor nosso Deus
E distribui amor pra quem quiser receber
Posso até entender.

Mas um absurdo eu não admito:
Que a moça devassa cometa o delito
De tirar-me o beijo com sabor de infinito.

 
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