Saturday, April 28, 2007
Diz-se que foi do sal que nasceu o amor de Florinda e Luciano. Do sal e do azeite de dendê.
Florinda era morena de dar água na boca. Não só pela náusea e pela tontura do seu rebolado, mas também por sua aptidão para cozinhar pedaços do céu. Botava a mão na massa e a negrada na mansidão. Todos perdidos e apaixonados pelos dotes culinários e hereditários de Dona Florinda. Era apimentada por demais e passada no sal quatro vezes a morena Florinda; prejudicava o colesterol.
Já Luciano sempre foi meio insosso. Se não fosse gente, seria chuchu. A cara de aguado, o cabelo lambido de brilhantina Crispim... O homem fazia força pra não ser amado. Era do tipo que sempre levava esbarrão, tropeção, trombada. Era tão sem graça que ninguém notava! Chegou ao cúmulo de Dona Florinda ignorá-lo no assento da praça; tomou o banco por vazio e sentou-se para descansar as ancas do rebolado. Acabou que sentou no colo do chuchu.
Não sei se foi o repentino contato íntimo, o falso pudor da morena ou a desatenta carência do branquelão, mas dali saiu casório. Os dois foram do banco da praça direto pra Igreja de São Sebastião.
Ficam agora num esfrega-esfrega infindável e invejável, a busca pelo meio termo na cozinha da casa matrimonial. Florinda vendo se tempera o moço, Luciano tentando abrandar a morena.