Monday, April 23, 2007
È uma dama virgem, casta. Embala-me pura, tão pura que arde o simples toque. Sua nudez imprevista me basta, me preenche as noites de vigília insone, contando baixinho em meu ouvido suas curiosidades virginais.
É mulher de poucos passos por viver na horizontal. Seus amores se alternam livremente, numa seqüência redundante em solidão. O sobe e desce do corpo na cama acaba por ter um valor hipnótico, um pêndulo que a acalma até que o prazer a desfalece. Então, é acordar para o vazio e a ausência.
Penso ser uma senhora já curtida pelo amor, a pele ressecada por falta de toque e o seio murcho por não ter quem o sustente. Foge constrangida dos espelhos, delatores de sua derrota, com a cabeça baixa e a corcunda encasulando.
É lindo vê-la dançando ao meu redor, deitada no meu colo, cantando-me seus versos desconexos. Eu me resumo a minha condição de prisioneiro, no meu casamento para a vida inteira. Admirado, numa romântica e patética desistência. Apaixonado, entregue ao prazer da guardiã do meu cárcere.
Nasceu mulher a minha vontade de chorar.
2 comments:
"Ah! Se amar como tu amas é um delito, (...) aformoseia o crime!" (Bocage)
Gosto de como juntas suas milhares de letrinhas num balé conexo e encantador, meu caro poeta!
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