DA CRIAÇÃO DO MUNDO

Saturday, April 08, 2006

Ela nasceu da luz que faz a Lua quando quer se apaixonar. Da fagulha, o ar em combustão criou a beleza pura e nova. A pequena criatura mágica permaneceu no céu durante alguns minutos, sustentada pela leveza que só possui quem já nasceu no alto. Desceu planando, amparada por coral de pequenas borboletas amarelas, que a depositaram com esmero em tapete verde. A grama, ao se sentir tocada, se revolveu em ondas, trazendo ao mundo a carícia primeira.
Num movimento muito preguiçoso, a menininha foi abrindo os olhos. O mundo só se fez possível com seus olhos bem abertos. Para poupar a vista delicada que recém conhecia a vida, as estrelas subiram o mais alto que podiam, passando a viver na resignação dos distantes. A primeira inspiração trouxe o vazio que o mundo não estava preparado para sentir. A expiração que se seguiu formou leve brisa, agitando palmeiras e cajueiros numa dança preguiçosa.
Sentiu-se pequena e poderosa, a criatura. Percebeu que, ao abrir seu primeiro sorriso, instalou-se a primavera em todo e qualquer espaço vago. Que, ao seu chamado, o sol surgia humilde, contendo-se em sua majestade. Bastava-lhe um leve fechar de olhos para que o mundo dormisse e se perdesse em leves sonhos.
Decidiu que andaria, seguiria o caminho que nasceu pra traçar; caminho em volta do qual o resto do mundo se criou. Mas não ainda. Aquele mundo era todo seu, curvado diante do milagre que representava essa pequena e divina criatura. Não tinha porque ter pressa, o tempo estava a esperá-la.
Virou-se de lado, levou o dedão da mão direita à boca e mergulhou na maior das sonecas. Deu-se ao direito de não existir, pelo menos por algumas horas, para aquele mundo que ansiava em ser seu. Logo acordaria e daria início à História.

1 comments:

Clara Camargo said...

finalmente, tomara que Clara tem texto novo. demorou, mas veio. adorei esse último seu. bjs

 
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