MUITO PRAZER

Wednesday, December 12, 2007

Silêncio.

- São dez horas. Você já quer ir embora?
- Ainda não. E você?
- Também não. Então vai, é a sua vez.

O processo é importante. A pausa deve ser curta.

- Eu fui loiro até os quatro anos de idade.

Precisamos nos atualizar do que aconteceu na vida um do outro durante a nossa mútua ausência; o que no nosso caso significa, basicamente, toda a vida que vem antes do nosso primeiro encontro no domingo.

- Eu nasci pequenininha. Pesava menos que um lombinho.

Eu não sei como acontece, mas o que acontece eu sei. Acontece uma vontade grande de mostrar logo quem eu sou e saber logo quem ela é. Assim, a gente já pula a fase do desconforto e do constrangimento que o desconhecido tráz e vive em compasso com a nossa familiaridade precoce. E eu quero poder fazer um carinho no cabelo dela, o quanto antes.

- Meu primeiro beijo teve gosto de esfiha.

- Credo! Minha vez. Eu morava em Brasília.

Eu vou escrevendo a sua biografia na minha cabeça. Juntando os fatos de uma vida que eu já deveria conhecer. Ela tem uma cicatriz na testa...

- Tá olhando o quê?
- ... hum?
- É a sua vez! Tá fazendo o que aí me olhando?
- Ah. Tô tirando foto. Quero uma biografia ilustrada.

Ela é tímida. Isso eu já sabia.

- Bobo... São duas horas. Já quer ir embora?
- Nunca.
- Também não. Então vai, é a sua vez.

1 comments:

Rebeca Rezende said...

Ele era um menino
Valente e caprino
Um pequeno infante
Sadio e grimpante.
Amava era amar.
Amava as gurias
Da rua, vadias
Amava as artistas
Das cine-revistas
Amava a mulher
A mais não poder.
Por isso fazia
Seu grão de poesia
E achava bonita
A palavra escrita.
Por isso sofria.
Da melancolia
De sonhar o poeta
Que quem sabe um dia
Poderia ser.

(Vinícius de Moraes)

 
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