Saturday, October 25, 2008
Tentei explicar à minha menina que o processo evolutivo fez nosso coração tão complicado. Falei da complexidade que é ser governado por um órgão com dois átrios, dois ventrículos, veias e artérias à balde e o sangue indo e revindo hesitante, sem coragem de ganhar o corpo de uma vez. Não tinha como: meu coração do jeito que era só dava para ter amor inquieto. Mas ela - lástima! - era bem menina mesmo e, em matéria de coração, ainda estava no primário brincando de ligar os pontos. Ela reclamava do meu jeito imprevisível; não lhe dava segurança. Foi embora atrás de paz e partiu-me o coração.
Eis que hoje me aparece a tal menina, já menos escolar e querendo retomar o meu amor de ir-revir. Ela quer o amor de coração complexo, de juras e repentes carinhosos. Ora vejam, quer que eu ame como amei há muito tempo.
Sinto muito, minha menina, mas o meu amor mudou. Não é mais aquele amor tão complicado de mamíferos e aves. Não é mais amor complexo de circulação indecisa e barroca em seus rococós. Meu amor agora é amor de coração partido ao meio, um átrio, um ventrículo, só. É amor simples e objetivo.
Meu amor agora é amor de peixe.