SOBRE VIVÊNCIA

Wednesday, June 27, 2007

Fique onde está, meu amor
Não se mexa
Não respire, suspire
Não fale, sussurre
Não me olhe através das lágrimas
Para que eu não grite meu pavor
Nós precisamos permanecer ocultos
Precisamos nos perceber incautos
Para que o que restar das nossas batalhas
Possam ser exibidas como medalhas no final
Seremos dois aleijados escorados em nossas condecorações de guerra
Em uma felicidade tão pura que só poderia ter nascido da auto-piedade
Por isso, cale a boca, querido amor
Cale a boca
Não se mexa
Finja-se de morta
Porque assim
Se tivermos sorte
A vida passa sem nos notar a presença.

A DOR SE PROPAGA NO VÁCUO

Saturday, June 23, 2007

Esvaziei-me...
Tsssssss...
Tornei-me uma bolha
De vazio contido
Um corpo-embalagem
Do vácuo batido
Envoltório de vida
Sem nenhum sentido
Anulei-me...
E apesar do nada que encerro em mim
Persiste uma dor lascinante
Reinando no espaço que sou
Enganei-me...
Perdi meu recheio para me livrar do que dói
Mas tudo o que consegui foi dar mais espaço pra dor brincar.

AD INFINITUM

Tuesday, June 19, 2007

Fiz um pouco de saudade
Enquanto esperava o fim da tua presença
Da falta densa fiz vontade
De só um eco teu me amar de verdade
Você não some assim tão fácil
Quem dera a dor ser tanta que te apagasse
Mas a dor que de ti bebo é dócil
E no tempo em que te amo vive a eternidade.

IGREJA DE RITA MANCINI DE TODAS AS GRAÇAS

Wednesday, June 06, 2007

Eu tinha um irmão mais velho. Quer dizer, ainda o tenho, mas ele sumiu, não sei onde ele está agora. Saiu por aí pra ganhar o mundo, mesmo que para isso eu tivesse que perder um irmão mais velho. Quer dizer, eu não perdi, só não sei onde ele está agora.
Quando éramos crianças e o tempo ainda não tinha tomado conhecimento da gente, sentávamos na sala de casa quando eu voltava da escola de seminaristas. Sofríamos da gostosa tortura do tédio incurável. Depois de esgotadas todas as possibilidades de brincadeiras, ficávamos nos encarando num processo de brainstorming telepático, em silêncio até que alguma idéia de divertimento surgisse. Invariavelmente, não saíamos com idéia nenhuma e meu irmão solucionava o tédio dele me enchendo de porrada. Eu só reagia gritando e sentenciando a todos pulmões que Deus estava vendo tudo aquilo.
Quando ia dormir (mais cedo que meu irmão, porque alguma besta levantou um decreto-lei que permitia aos mais velhos dormir mais tarde), eu rezava para que o meu irmão sumisse da face da terra ou que eu aprendesse a revidar seus socos, o que viesse primeiro. O que não podia durar era essa injustiça que aí estava! Bom, o que aconteceu foi que, passados dois anos, o meu irmão sumiu. Sumido até hoje. E eu não preciso nem dizer que eu ainda bato como uma senhora.
Levei um susto, sabe? Não achei que esse negócio de rezar realmente funcionasse. Achei que era só uma desculpa para os padres preencherem o tempo de aula no seminário: “Bom, criançada, não tem muito mais o que dizer sobre Deus, ainda temos três horas de aula, então vamos todos rezar até as mães de vocês aparecerem para busca-los. Alguém quer almofadinha para os joelhos?”. Nunca mais rezei na vida e larguei o seminário. Que perigo! Atendendo as minhas preces assim? O Senhor não sabe, sendo o Criador que é, que somos todos imperfeitos, impulsivos, imprevisíveis e totalmente, despudoradamente e orgulhosamente irresponsáveis? Me desculpe a ousadia, mas aonde é que o Senhor estava com a cabeça quando foi atender as minhas preces? Não quero mais um deus que me atenda, quero uma relação com alguém que tenha o mínimo de bom senso pra não dar ouvidos aos meus pedidos ensandecidos.
Foi então que conheci, amei e desposei Rita Mancini, pessoa sábia que sabe não me dar o menor crédito.

 
VIVER DE BRISA - by Templates para novo blogger