MARIA ENCANTO

Thursday, April 01, 2010

Saíram; o tempo ainda dormia. Chegaram sem mais nenhum voltar. Partiram deixando atrás um rio de mágoas e os remos deixaram pra boiar. Fugiram foi da bela Maria, mulher que nasceu de um luar. Temiam que uma vez mais seus olhos de águas causassem vontade de matar.

Faz tempo, nasceu Maria Encanto. Nasceu que doeu quem fosse olhar. Tão bela a bebê Maria, chorava, chorava, que Homem nenhum pode agüentar. Tão nova, colocava quebranto em quem teimava a se aproximar. A sua beleza ardia; no mundo entrava e nele Maria tinha altar.

Já no primeiro suspiro infante, Maria tinha mil pra casar. Ao fim do primeiro mês a fila sumia naquela curva que o mundo dá. A Maria quando debutante, enfim poderia alguém amar. Não houve quem não quisesse tamanha alegria naquele lugar de deus dará.

Não houve mais Homem de trabalho, nem jovem garoto pra estudar. Perderam-se avôs, irmãos, maridos e amantes; da porta de Encanto fez-se um lar. Criou-se então um mundo falho, fadado a sumir, se acabar. Os Homens pararam as mãos, ficaram distantes, da terra, da cama e do amar.

Ao ver no bebê tanta ameaça, as Noivas puseram-se a tramar. Que triste o futuro a vir sem ter casamento, e tanta Mulher querendo um par. Fizeram à noite a sua trapaça, deixando a fila a dormitar. Maria ainda a dormir, jogaram ao Vento, e foi-se o bebê, sumiu no ar.

Pois quando surgiu o Sol chorando – “Que falta a bela Maria faz!” – O que se seguiu foi dor; partiram os Homens, caçando suas Mulheres más. A guerra amanheceu queimando, a morte seguiu logo atrás. Os Homens plantavam horror por onde passavam – “Eu quero Maria, eu quero a paz!”

Depois que chegou a noite lenta, que venta sem nunca refrescar, a brisa trouxe Encanto e a pousou no sangue de quem não conseguiu escapar. Aos poucos se cessou a tormenta, os Homens pararam de lutar. Olharam por toda a volta, só viram o mangue que sobrou depois do guerrear.

Maria se ausentou um dia; já fez um milagre se operar. Voltou do breve planar já moça crescida, em plena idade de amar. A moça parada, ali sorria. Não tinha ninguém pra lhe ofuscar. A Noiva que não morreu, saiu na corrida; Encanto é sozinha pra reinar.

Sentindo o remorso dolorido, daquele que faz peito chorar, os Homens se ajoelharam, pediram clemência – “Imploro, não me faça te olhar”. Maria não viu nenhum sentido e pronta se pôs a desfilar. Despiu todo o corpo à vista, levou à falência o ímpeto de quem quis olhar.

Os poucos que resistiram castos, correram dali sem nem pensar. Temiam o fim de quem provasse a beleza e dela não pudesse largar. Os outros que se entregaram vastos, sentiram o corpo congelar. Perderam-se entre o amor e a pura tristeza e ali viram tudo terminar.

A fuga se deu antigamente, Maria já não mora mais lá. Mas quem se correu dali não parou ainda com medo do que Encanto fará. Preferem correr eternamente pra longe de onde Maria está. Quem sabe assim o amor se cansa e finda...? Quem sabe o que me sobrará?

 
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