FISIOLOGIA DO CORAÇÃO PARTIDO

Saturday, October 25, 2008

“Os peixes são os animais que, com sistema circulatório desenvolvido, têm o coração mais simples”, já me dizia a apostila nos tempos de cursinho. Um átrio, um ventrículo, só. Sem mais delongas. O sangue entra venoso, passa pelas brânquias, vira arterial e só se atreve a voltar ao coração quando se gasta em venoso novamente. Simples e objetivo; esse é o coração do peixe.

Tentei explicar à minha menina que o processo evolutivo fez nosso coração tão complicado. Falei da complexidade que é ser governado por um órgão com dois átrios, dois ventrículos, veias e artérias à balde e o sangue indo e revindo hesitante, sem coragem de ganhar o corpo de uma vez. Não tinha como: meu coração do jeito que era só dava para ter amor inquieto. Mas ela - lástima! - era bem menina mesmo e, em matéria de coração, ainda estava no primário brincando de ligar os pontos. Ela reclamava do meu jeito imprevisível; não lhe dava segurança. Foi embora atrás de paz e partiu-me o coração.

Eis que hoje me aparece a tal menina, já menos escolar e querendo retomar o meu amor de ir-revir. Ela quer o amor de coração complexo, de juras e repentes carinhosos. Ora vejam, quer que eu ame como amei há muito tempo.

Sinto muito, minha menina, mas o meu amor mudou. Não é mais aquele amor tão complicado de mamíferos e aves. Não é mais amor complexo de circulação indecisa e barroca em seus rococós. Meu amor agora é amor de coração partido ao meio, um átrio, um ventrículo, só. É amor simples e objetivo.

Meu amor agora é amor de peixe.

AMORATÓRIA

Tuesday, October 21, 2008

Difícil é declamar a poesia.
As entonações nunca dão certo
As pausas me confundem
E os sentidos se perdem:
Seu eu falo de rosas (quase sempre)
Me entendem violetas.
Violetas...
E seria eu capaz de poetar sobre violetas
Tendo rosas por aí?
Difícil declamar a poesia.
Melhor pra mim deixá-la em segredo no papel.

NAQUELE PEITO, TUDO O QUE SE PLANTA, DÁ

Thursday, October 02, 2008


Brotou de repente no meio da vista
A Flor imprevista a me desalinhar
Nasceu tão silente quanto uma incerteza
Causou-me estranheza de fazer gritar
Mas abri a boca e saiu-me mil juras
Galantes canduras sem nenhum pudor
Das coisas que disse, só de uma me lembro
“Te esposo em dezembro” e sorriu-me a Flor
Fartei-me das valsas de corpos em claro
Dançando, não raro, ao som do relento
Larguei toda a vida que me circundava
Na hora bastava o meu sentimento
Mas pouco durou a minha valsinha
A Flor não me tinha o mesmo amor
Bem pouco durou a minha quimera
Findou Primavera, morreu-me a Flor.

 
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