"...E CHORA"

Thursday, August 21, 2008


Horário livre agora só amanhã, infelizmente. Tá uma temporada bem puxada pra pessoas como eu, nesse ramo da consolação. O povo ta que se angustia de uma maneira que eu quase não venço atender todo mundo em horário comercial. Sempre dou uma esticada até as 18 horas. Não que eu esteja reclamando, fazia tempo que eu não tinha lucro! Viu o preço do papel higiênico como ta? Pois é, antes eu só trabalhava com aquele papel rosa. Clientela reclamava, mas o que eu podia fazer? Agora, chegadas as vacas gordas, só trabalho com folha dupla extra macia.
Seu Manoel, muito prazer. Passa amanhã que te atendo. E avisa os amigos com problemas: dor no coração, aperto no âmago, suspiro crônico, é comigo mesmo. Vinte minutos de colo mais pedaço de papel pra secar as tristezas por 50 centavos de real. Minha pele tá curtida, mas o colo ainda é bom! E outra, agora só trabalho com folha dupla extra macia da melhor qualidade. O preço que cobro tá quase uma caridade.
Veio hoje a Dona Jura, mulher do carteiro, sabe? Pois é, ela é das costumeiras. Me paga no boleto mensal. Sofre de marido ausente, coitada. É o marido pernando na rua e ela soluçando no meu colo. Mas eu não reclamo não. A gente tem que trabalhar; na idade que eu tô, se eu parar eu morro. Liga pra Dona Jura que ela te fala bem de mim.
Passa amanhã que eu te atendo, porque hoje o dia já saturou. Uso amaciante na calça, já te falei? Só uso calça velha que é mais maleável pro rosto do freguês. Deita aqui pra ver, deita? Não? É quase um travesseiro de pelica. Mas vem amanhã que eu te mostro. Cinqüenta centavos o colo e o lenço. Passa amanhã que te atendo, hoje não dá mais.

 
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