QUANDO O LÉXICO NÃO AJUDA

Tuesday, August 29, 2006

Uma coisa! Como definir de outro jeito? A Carminha é uma coisa! Do melhor tipo! Que palavra foi feita pelos poetantes de outrora pra definir o que me dá quando ela se pendura no meu pescoço, assim, tão aconchegada? Que letras eu junto pra nomear a carinha que ela faz segundos antes do beijo; naquele momento em que os lábios se abrem de leve? Nenhuma! Carminha é coisa nova, recente no mundo e mais recente ainda na minha vida. Não deu tempo ainda de definir. Necessária... Talvez, necessária talvez. Mas o melhor mesmo é chamar Carminha de coisa, que coisa nenhuma consegue definir.

DE MUDANÇA

Sunday, August 27, 2006

Tão bem vinda...
Pisa leve ao entrar
É cedo ainda...
Tens o dia pra ficar
Ou minha vida
Pra fazer de teu lugar
Deixa o medo
Na tua antiga locação
É tão cedo...
Temos toda a duração
De um enredo

Que é escrito à duas mãos
Do meu peito
Faz morada permanente
Do desfeito
Traz sorriso inconseqüente
Que eu te aceito
Pra ser minha, docemente...

MONALISA

Tuesday, August 22, 2006

Monalisa prende o choro
Finge que não dói a alma
Come o grito por socorro
Por disfarce, usa a calma.
Em sua cama de desgosto
Deita o corpo já bem frio
Repousa, do lado oposto
Solidão, sempre gentil.
Busca o sono que amortece
Fecha os olhos de amante
Foge de quem a esquece
Deixa o sentimento errante.
Sonha, Monalisa leve,
Que o teu coração não chora.
Faz do teu alívio breve,
Situação de toda hora.
E quando acordar, enfim
Guarda a paz tão esperada
Pois a tua dor, em mim
Vai achar nova morada.

SONETO NO ESCURO

Monday, August 14, 2006

Só me falta um pouco de alguém mais
Eu preciso do que não é meu
Já não quero mais silêncio e paz
Quero a voz que diz: “Você e eu”.

Por pensar demais, me fiz lembrança
Por estar tão só, virei adeus
Como a pele que se torna mansa
Por não encontrar amores seus.

Que me acabe tanto espaço vago
Preenchido de suspiro e choro
Tão brilhantes quando a luz apago.

O vazio vai querer transformar
Todo o som que nunca existiu

Em canção de quem só quer amar.

SONETO DA TRAVESSIA

Com os braços já cansados
Ante os mares enfrentados
Sempre encontro pela frente
O meu bando de ilha-gente.

Esse arquipélago querido
Que nunca me deixa esquecido
Nem mesmo se sobe a maré
Nem se eu me afogo sem ter fé.

Me salvam sem conhecimento
Me trazem o não-movimento
Em meio à fúria do mar.

Em seguida, eu parto refeito
Levando boiando no peito
A certeza de um amor insular.

LIMPEZA

Friday, August 11, 2006

Traga-me um balde
Fundo.

Vou me livrar da raiva que faz peso
Vomitar caldo de ódio e desprezo
Expulsar a ferida daqui.

Agora me sinto
Sujo.

Mas que a tua desgraça me lave
Que com as unhas no teu corpo eu cave
A passagem pra longe de ti.

SORTE

Tuesday, August 08, 2006

Do intenso
Faça o breve
Do pescoço
Tire o beijo
Do desejo
Dê ao moço
Amor leve
Mas imenso.

SEIS, SETE, NOVE, DEZ

Queria pular um dia. Posso? Cavar um buraquinho no espaço-tempo e apagar do calendário o dia de amanhã. Posso? Ah, que falta faz um diazico na imensidão que é a eternidade? Um diazico de nada! Um pentelho! As pessoas nem vão reparar... Amanhã é terça-feira; ninguém faz muita questão de terças-feiras. Durmo uma segunda e acordo uma quarta-feira, só com o sangue pra limpar, os ossos pra varrer e um filho da puta a menos pra me aporrinhar. Posso?

AGORA

Thursday, August 03, 2006

Vem depressa que eu não sou mais o mesmo
E o que sou não vai ser muito mais não
Vem enquanto o que eu sou te ama a esmo
Com o que eu já chamei de coração
Não espere que se mude o meu sentido
Que o que eu choro me faça gargalhar
Que o silêncio se torne amor contido
Que o contido se faça esparramar.

Corre que eu não sou coisa que se guarde
Evaporo num leve farfalhar
Que seu corpo me pese sem alarde
Pra que o meu não se ponha a planar
Não pense que no céu feliz me faço
Eu preciso de alguém aqui no chão
Mas a ter que viver pisando em falso
Eu prefiro voar na solidão.

 
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